Está excelente a entrevista que o pesquisador Amadeu Bonato concedeu à IHU On-line sobre as contradições que o Brasil vive em relação ao desestimulo ao consumo de cigarro e o aumento da produção do tabaco, no país, denunciando que não é só o fumante, seja ele ativo ou passivo, que sofre com as doenças do fumo.
"O produtor agrícola", afirma Bonato, "sofre com intoxicações seriíssimas. A chamada doença da folha do tabaco verde acontece, independente do agrotóxico, quando, no momento da colheita se dá o contato da pelo com a folha úmida do tabaco, ou seja, ocorre um processo de absorção da nicotina pelos poros da pele. Ou seja, a pessoa fuma pela pele quantidade muito maior do que do fumante normal. E isso provoca náuseas, dores de cabeça, dores musculares, vômito e, alguns casos, desmaio”.
Segundo o pesquisador, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de fumo; produz, para consumo interno, cerca de 15%, e 85% são produzidos para exportação.
"Então, se a fabricação e o consumo de cigarros vão diminuir no mundo todo, vai haver menos demanda do fumo, e, com isto, o produtor vai ser excluído desta atividade. Hoje, no Brasil, em torno de 200 mil famílias produzem fumo. A nossa pesquisa buscou identificar quais são as famílias mais vulneráveis a esse processo. Entendemos o seguinte: em torno de 28% das famílias que produzem fumo recebem mais de quatro salários mínimos por mês de renda. Estes dificilmente deixarão de produzir o fumo. O grupo de produtores que tem renda média recebe entre dois a quatro salários mínimos mensais. Estes são 34% dos produtores de fumo no país. A tendência é que estes também possam permanecer nesse campo de atuação. Mas tem um grupo, que são 38%, cuja renda é muito baixa, ou seja, menos de dois salários mínimos por mês", alerta Bonato.
O pesquisador acrescenta que numa dinâmica de redução de produção, estes grupos de renda mais baixa serão os primeiros excluídos, até porque a tendência das empresas é ficar com as pessoas mais especializadas, que se dão melhor com a atividade.
"Desta forma, ou o governo começa desde já a pensar em políticas públicas que dêem conta do futuro processo de exclusão destas famílias ou, quando eles forem excluídos, a alternativa que resta será ir para as grandes cidades, ampliar os bolsões de miséria", alerta ele.
O estado onde há maior problemática em relação ao tabaco é o Rio Grande do Sul, pois produz 50% do fumo brasileiro; também é o estado com maior incidência de câncer de pulmão.