Sobe rejeição a fumantes

Além de preservar a saúde e de reduzir os gastos no fim do mês, ficar longe do cigarro pode trazer outra vantagem: a simpatia do empregador quando se está disputando uma vaga de trabalho.
Pesquisa feita pela empresa Catho Online com 16.207 entrevistados revelou que 83,2% dos presidentes e diretores de empresas têm restrições em contratar profissionais fumantes.
"É opção muito razoável" garantiu a diretora do ambulatório de tabagismo do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (Incor-USP), Jaqueline Sholz Issa.
A médica observou que, ao fazer a opção por um profissional que não fuma, o empregador evita o absenteísmo, as frequentes interrupções que ocorrem quando o funcionário sai para fumar.
"Sem falar na redução do constrangimento de o funcionário acender um cigarro em um local fechado, proibido", acrescentou.
A expressiva rejeição dos empregadores é crescente. Em 2003, 44% dos presidentes e diretores de empresas diziam ter objeções em contratar fumantes.
O resultado desse comportamento é evidente: ao longo dos anos, o número de funcionários que fumam diminuiu. A pesquisa mostra que, neste ano, 11,9% dos empregados entrevistados mantêm o vício.
Número bem menor do que o registrado em 1997, quando 19,7% fumavam.
O trabalho mostra que, quanto maior a empresa, mais duras são as regras com relação ao cigarro. Nas que faturam menos de US$ 15 milhões anuais, 75% dos funcionários não têm permissão para fumar.
Nas companhias que faturam mais de US$ 100 milhões, o percentual sobe para 79,5%. As multinacionais também têm uma restrição maior: 79,8% dos empregados não podem fumar na empresa, enquanto nas companhias nacionais, esse índice é de 76,1%.
A pesquisa mostra, no entanto, que apesar de diretores e presidentes não permitirem a contratação de funcionários fumantes, muitas vezes eles próprios mantêm o hábito. De acordo com o trabalho, 18,5% dos fumantes das empresas estão entre presidentes, gerentes ou cargo equivalente.
Em segundo lugar, vêm consultores independentes, com 17,7%.
Estagiários são os que têm maior restrição: respondem por 7,7% dos fumantes.
Os reflexos do cerco contra o profissional fumante são sentidos nos serviços de controle ao tabagismo. Jaqueline Issa conta que, no ambulatório que dirige, o primeiro motivo para se tentar parar de fumar é a melhoria das condições de saúde.
Em segundo lugar, vem a aceitação social.
"Fumantes começam a se queixar até mesmo em dificuldades para arrumar namorado", garante a médica.
Em sua avaliação, tais restrições devem ser consideradas como um avanço.
"Não é preconceito. É a redução da tolerância com razões muito bem definidas. Diante do cerco, há mais razões para o candidato pensar em tentar abandonar o cigarro", diz.
Pesquisa divulgada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em maio já havia identificado o anti-tabagismo como nova forma de discriminação na contratação de um novo empregado.
Segundo o estudo, o estilo de vida dos fumantes é considerado pelos empregadores como "pouco saudável" e inconveniente ao ambiente de trabalho.