Trabalhadores rurais apresentam sintomas de encefaléia, náuseas, vômitos, fadiga muscular, zonzeira e alterações repentinas de pressão arterial
Texto de Luciane Bosenbecker
Da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul)
A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) realizou no município Candelária (RS), nos meses de novembro e dezembro de 2008, uma investigação de surto de doenças na época da colheita nas lavouras de tabaco e o resultado aponta para a ocorrência da Doença do Tabaco Verde entre os trabalhadores também no Brasil.
A equipe de investigadores permaneceu 50 dias no município de Candelária(RS), onde quatro mil famílias que se dedicam ao cultivo do tabaco. Nesse período foram detectados 46 casos suspeitos, com sintomas de encefaléia, náuseas, vômitos, fadiga muscular, zonzeira e alterações repentinas de pressão arterial.
Após a identificação dos casos suspeitos foram coletadas informações dos pacientes e amostras de urina para exames de resíduos de cotinina (identifica absorção dérmica de nicotina). Para cada caso suspeito foram coletadas informações e exames de vizinhos para comparações. Dos 46 casos investigados 33 tem a confirmação de Doença do Tabaco Verde.
Os resultados foram apresentados no último dia 19 de junho na Associação Comercial e Industrial de Candelária para representantes da comunidade e ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul na capital gaúcha.
Nos próximos dias o Ministério da Saúde emitará comunicado a toda rede de saúde alertando para a ocorrência da doença nas regiões fumicultoras, fazendo com que médicos e equipes de saúde fiquem atentos aos sintomas e solicitando a notificação de ocorrência de casos suspeitos.
O ministério expedirá orientação aos trabalhadores na cadeia produtiva do tabaco.
Para a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), a identificação dos casos em Candelária aponta para a necessidade de uma investigação mais aprofundada para medir a prevalência entre os trabalhadores. Estudo realizado na Índia aponta para 54% de prevalência entre os trabalhadores, os sintomas são mais agudos em períodos chuvosos, quentes e a absorção dérmica amplia em caso de suor.
Para o Secretário Geral da Fetraf-Sul, Marcos Rochinski, esse resultado não surpreende. “Esse resultado é um indicativo de um grande mal que assola os fumicultores e talvez esse seja um indicativo de porque 72% dos fumicultores afirmam que não gostam de plantar fumo”.
“Uma informação como essa pode acelerar a decisão de diversificar a produção, levando os agricultores a buscar outras fontes de renda e evitar assim a dependência de uma única fonte de renda. É necessário ampliar o Programa de Diversificação das Áreas Cultivadas com Fumo”, comenta técnico agrícola da Fetraf-Sul, Albino Gewehr.
O coordenador Geral da Fetraf-Sul, Altemir Tortelli pretende discutir o tema com a Casa Civil da Presidência da República e Ministério da Saúde nos próximos dias.
“Com saúde não se brinca. O lucro das fumageiras vem do suor dos agricultores e este suor é porta de entrada dessa grave doença. Providências urgentes devem ser tomadas com urgência”, diz Tortelli.