Cigarro expulso dos espaços públicos

Gustavo Capdevila Genebra
IPS


O cenário das ações que a Organização Mundial da Saúde e instituições públicas e não-governamentais travam contra o fumo agora se desloca para os espaços públicos, declarados livres de tabaco em vários países.
O Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado neste 31 de maio, propõe este ano a eliminação total do fumo dos lugares públicos para garantir o direito da população à saúde e a uma vida sã, disse o sanitarista espanhol Armando Peruga.
Durante as celebrações pela data será informado ao público sobre os perigos do consumo de tabaco, das práticas comerciais das multinacionais do setor e das políticas que os governantes podem adotar, afirmou Peruga, coordenador das atividades preparadas pela OMS.
A campanha promove ambientes internos 100% livres de tabaco, porque a exposição à fumaça ocorre em qualquer espaço fechado, como locais de trabalho, lugares públicos e também dentro de casa.
Os esforços se devem ao fato de que os testes científicos agora são inquestionáveis: a fumaça do cigarro alheio – aquela aspirada forçosamente por não-fumantes, ou fumantes passivos – mata e não há nenhum tipo d exposição à mesma que não apresente risco, disse Peruga.
Isso é totalmente indiscutível, insistiu. Por outro lado, os espaços públicos sem tabaco estão se convertendo em norma.
Em poucos anos passamos do consumo de tabaco em todo lugar a países como Irlanda, na Europa, e Uruguai, na América Latina, onde existem ambientes livres da fumaça, acrescentou.
A Venezuela estuda restringir o consumo em lugares públicos e inclusive a produção e a venda de cigarros e tabaco.
A Comissão Européia estuda a proibição total ao habito de fumar em público. Por isso a celebração deste ano tende a reforçar essa propensão a um mundo livre de tabaco.
Porém, as atividades da OMS não culpam o fumante e nem se trata de proibir o consumo de tabaco, explicou Peruga.
“Trata-se de as sociedades adotarem decisões sobre onde é possível fumar e onde não pode, para proteger a saúde dos trabalhadores e do público em geral”, acrescentou.
Os governos deverão promulgar legislações que declarem ambientes livres totalmente de fumo os locais de trabalho fechados, lugares públicos, restaurantes e cafés.
O tabaco causou a morte de 5,4 milhões de pessoas em todo o mundo em 2005. Se essa tendência for mantida, em 2030 serão 8,3 milhões de mortes. A média de fumantes chega a 29% da população mundial.
De acordo com o gênero, 47,5% dos homens e 10,3% das mulheres fumam.
Os dados divulgados pela OMS lembram que o tabaco mata 50% dos consumidores habituais.
Dos 1,3 bilhão de fumantes que existem hoje no mundo, 650 milhões enfrentam a possibilidade de morrer por essa causa.
Deles, aproximadamente 350 milhões falecerão com idade entre 35 e 69 anos. Oitenta e quatro por cento dos fumantes de todo o mundo, mais de um bilhão de pessoas, se concentram nos países em desenvolvimento e nações com economias em transição.
Na fumaça do tabaco há cerca de quatro mil produtos químicos conhecidos, dos quais 250 são tóxicos ou causam câncer nos seres humanos.
Quando o ar está contaminado por esta fumaça, especialmente em locais fechados, substâncias como o monóxido de carbono e outros gases muito nocivos são respirados tanto por fumantes quanto por quem não fuma.
A OMS sustenta que a indústria tabagista soube durante décadas que as políticas para proteger as pessoas da exposição à fumaça alheia representam uma séria ameaça para seus negócios.
Esta indústria enganou confundiu repetidamente o público sobre os reais perigos e riscos da exposição à fumaça do cigarro e dos efeitos econômicos das proibições de fumar, afirma a instituição.A interferência das multinacionais do setor infelizmente é habitual, disse Peruga à IPS.
“A contrário da malária ou da tuberculose, o tabagismo apresenta um problema muito grande, que é ser uma das poucas doenças transmitida por uma indústria legalizada”, disse o sanitarista.
Segundo ela, a indústria claramente interfere na aprovação de legislação e espalha falsidades. Por exemplo, a mais notória é que o fumo do tabaco não produz nenhum tipo de problema de saúde em quem não fuma.
“Sabemos que não é verdade. A fumaça do tabaco nas outras pessoas mata”, ressaltou Peruga.
Kathryn Mulvey, diretora-executiva da organização não-governamental Corporat Accountability International, confirmou essa interferência da indústria, em particular das três grandes multinacionais do setor, que são Altria-Philip Morris, British American Tobaco (BAT) e Japan Tobacco International (JTI).
Essas empresas atuam de diferentes maneiras, prejudicando as ratificações do Convênio marco da OMS para o Controle do Tabaco, utilizando o que elas chamam de “campanhas de prevenção do consumo” ou outro tipo de ação de relações públicas ou de imagem, para ganhar a boa vontade dos países, disse Mulvey à IPS.
A especialista americana recordou que as três multinacionais são acusadas de cumplicidade no contrabando mundial de cigarros que oscila entre um quarto e um terço da produção anual de tabaco, afirmou Mulvey.
O comércio ilegal de tabaco, que pode representar perdas de dinheiro público entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões ao ano, será um dos temas discutidos pelos representantes dos 147 países que já ratificaram o Convênio, quando se reunirem entre 30 de junho e 6 de julho m Bangcoc, na Tailândia.
As partes do Convênio Marco, que entrou em vigor em fevereiro de 2005, também examinarão algumas diretrizes para a aplicação das políticas de ambientes livres de fumaça, acrescentou Peruga.