Como transformar a pulsão de morte pela pulsão de vida na luta contra a indústria da morte.
Para refletir...
Por Alberto Araujo, pneumologista
Enquanto a Souza Cruz comemora o aumento os seus lucros dourados, (com suas inescrupulosas vendas)
Os fumantes vão perdendo a competição para chegar aos melhores anos prateados, (de suas encurtadas vidas)
O governo arrecada vorazmente satisfeito mais impostos bronzeados, (com o revés dos custos de tantas humanas perdas)
E nós nas trincheiras do tratamento não sabemos mais como desatar tantos nós, nauseados (de tantas idas e vindas, recaídas)
Na olimpíada da vida resumida em tabaco,
A chama vital não resiste à sina
De tanta gente jovem ainda pega pelo laço em plena adolescência
A dependência não é só um fenômeno comportamental e genético...
É acima de tudo, uma questão de ordem antropológica, filosófica, econômica e de prioridade da política social.
Sem que a arrecadação do imposto da morte anunciada se converta em razão para os espúrios ganhos do capital
Mudar esta realidade cruel depende de muita pressão, enfrentamento da corrupção e sentido de responsabilidade social.
Pois os danos transcendem à espécie humana, envolvendo questões de natureza ambiental.
Aos recordes da produção e consumo de cigarros
Somam-se os recordes de derrames, enfisemas e infartos
E das inúmeras sessões de fisioterapia, oxigenioterapia e angioplastia
O governo devia condecorar a indústria do tabaco, com a medalha de honra ao óbito e à sangria
Que estes senhores do apocalipse tabágico promovem nos parcos recursos da saúde
Com esta arma poderosa que mina e explode lentamente a centelha humana, até o precoce ataúde.
Comemorem senhores donos e acionistas em seus suntuosos encontros
Muito mais que os aviltantes lucros com seus "negócios"
Aproveitem para brindar aos seus novos filões de jovens consumidores fisgados,
Enquanto milhares de fiéis, anônimos e esquecidos fumantes jazem sob palmos de terra onde floresce a erva-daninha nicotiana tabacum sob seus ávidos olhares e corações gélidos.
Pena que inda fiquemos em lamentos
Que não ensaiemos uma grande indignação
Para explodir em vaias a tanta corrupção e malversação
Alimento dos jogos olímpicos da morte que estes senhores praticam de forma legal, sem tormentos.
Aos 200 mil brasileiros que, a cada ano, são arrastados pela morte evitável
Aos 35 milhões que vão, a cada ano, definhando e lutando contra a dependência inevitável
Aos 70 presumíveis milhões de passivos fumantes que são atingidos pela fumaça fatal
Àqueles que já não podem gritar, então que sejamos nós, que nunca nos deixemos abater ante a omissão, conivência, injustiça e irresponsabilidade social.
Afinal quanto custa uma ponta de cigarro jogado em nossas matas?
Quanto custa uma vida ceifada a cada 4 minutos?
Quanto imposto do tabaco ainda será arrecadado para remediar a tal falácia da dívida com banqueiros?
Enquanto a dívida com o precário sistema de saúde não dá conta sequer de socorrer os dependentes brasileiros?
Enfim, quanto lucro ainda será necessário para a ebulição de nossa ira
Quando é que se apagará esta chama macabra,
E se acenderá em nossas mentes e corações, a olímpica pira
Da energia em defesa dos jogos da vida, contrapondo-se às pulsões de morte pelas pulsões de vida?
Alberto Araújo.
Rio, 01 de agosto de 2007.