Fumo na gravidez afeta produção de hormônio em recém-nascidos prematuros


Pesquisa mostra que há diminuição dos níveis de substância que tem importante propriedade antiinflamatória

As fumantes têm motivo a mais para deixar o cigarro apagado durante a gravidez: estudo comparativo realizado pela médica pediatra Inês Maria Gutierrez Pardo (foto) encontrou níveis inferiores do hormônio adiponectina no sangue coletado do cordão umbilical de recém-nascidos prematuros de mães que fumaram durante a gestação.
Produzida pelo tecido adiposo (gorduroso), a substância tem importantes propriedades antiinflamatórias e antiaterogênicas (previne obstruções arteriais), e sua redução no organismo está associada a doenças respiratórias e coronarianas, como infartos e tromboses.

O achado de Inês é fruto de suas pesquisas de pós-graduação na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
O trabalho integra conjunto de quatro estudos desenvolvidos pela doutoranda no Laboratório de Endocrinologia da Universidade com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e se insere nas investigações internacionais que buscam compreender melhor as funções das proteínas no organismo.
O orientador foi o Prof. Dr. Antonio Azevedo Barros Filho, do Departamento de Pediatria, e o co-orientador o Prof. Dr. Bruno Geloneze Neto, da Disciplina de Endocrinologia.
Para descobrir a correlação entre número de cigarros consumidos e quantidades de adiponectina, Inês comparou os níveis da substância encontrados no sangue de 108 bebês nascidos no Hospital Universitário da PUC de Sorocaba (SP) - cidade onde ela trabalha -, divididos em quatro grupos de controle.
Em dois grupos reuniu 17 prematuros: sete eram de mães que fumavam em média 25 cigarros por dia, e dez haviam sido gerados por mulheres sem o hábito.
Ao dosar a proteína no laboratório da Unicamp, encontrou no sangue retirado do cordão umbilical dos bebês gestados pelas fumantes a quantidade de 40 microgramas de adiponectina por mililitro de sangue (mg/ml), volume significativamente inferior ao índice de 58 mg/ml obtido no material coletado nos filhos das não-fumantes.
A pesquisadora realizou a experiência em dois outros grupos formados por bebês com idade gestacional de 37 semanas, um composto por 14 gestantes que fumavam em média 12 cigarros diários, e outro por 77 mulheres sem o hábito.
Nesses, os resultados encontrados foram mais próximos: 64 mg/ml de adiponectina no sangue de bebês de mães não-fumantes e 60 mg/ml entre as crianças geradas pelas fumantes.

“A discrepância na comparação dos valores revela que há importante relação inversa entre o número de cigarros fumados pela gestante e os níveis de adiponectina dos recém-nascidos”, afirmou Inês, acrescentando que quanto maior a quantidade de cigarros, menor é a concentração da proteína no sangue.

De acordo com a pediatra, a incidência de problemas vasculares, pulmonares e cardíacos em prematuros de mães fumantes é relativamente considerável e sua ocorrência pode começar a ser explicada pelas conclusões de seu estudo.
Embora ela ressalve ter reunido uma amostragem pequena, os dados obtidos foram suficientes para validar estatisticamente os resultados.

“A adiponectina é um hormônio antiinflamatório e protetor dos vasos sanguíneos. Portanto, ter a substância em menor quantidade teoricamente significa predispor o organismo a uma série de comprometimentos vasculares, como trombose, doenças coronarianas, e processos inflamatórios”, complementou Inês.
Segundo ela, sabidamente, o tabagismo exerce influência maléfica sobre os vasos sangüíneos.

A pesquisadora observou que seu trabalho abre caminho para estudos mais profundos sobre a correspondência entre baixos níveis do hormônio e doenças vasculares, os quais poderão até culminar no futuro com o estabelecimento de ações médicas preventivas.

Ministrar doses de adiponectina ao recém-nascido com baixas taxas da proteína poderá contribuir para aumentar a imunidade de seu organismo a problemas inflamatórios.
Mas até que a Medicina conclua ser este recurso viável, o melhor que as gestantes têm a fazer é fechar a boca para o cigarro.